Uma ponte para o futuro

A criação da “Câmara de Comércio de Portugal e China” (CCPC-PME), constitui um momento de relevante actualidade no quadro das relações entre os dois países e as duas economias.

 

Quanto mais as sociedades dos dois países se congregarem em instituições fortes à volta de interesses comuns dos dois lados do mundo, mais o mundo, neste caso também económico, retirará proveitos desta aproximação.

Sem complexos de nenhuma natureza assumindo o quadro de grande abertura económica e relacional que a China vem afirmando em Portugal nos últimos anos.

 

Privilégio para ambos os países já que se Portugal se consolidou como economia indiscutivelmente integrada na euro-zona, não é menos certo que quem conhece a China não pode deixar de assumir a verdade de uma progressão extraordinária a favor do desenvolvimento, integrando milhões de chineses num quadro de vivência numa modernidade desconhecida no século passado.

 

A China dos nossos dias surpreende quanto ao seu desenvolvimento económico, mas de um ponto de vista da correlação sociológica com este desenvolvimento, importa notar a mudança geracional do paradigma de vida para milhões de jovens, com tudo o que tal implica.

 

A tal facto – a mobilização da juventude, moderna, arejada, urbana – acresce ainda a criação de uma classe média fortíssima, o que torna este país uma espécie de “melting pot” que incorpora no quotidiano, estilos de vida perfeitamente compagináveis entre diferentes gerações: um observador atento, arrisca uma experiência inesquecível, ao ver chegar à “Forbidden City” da dinastia dos Ming e Qing, famílias inteiras descobrindo o tempo do lúdico e da cultura…

 

Mas nas imensas e modernas praças e avenidas, tanto se pode olhar uma loja envidraçada da Apple ou da Samsung plena de “teenagers” testando os últimos “gadgets” da tecnologia americana ou sul-coreana, enquanto ao lado, depois das sete da noite, pares enlaçados de várias gerações, no passeio público em tempo de “after hours”, recriam figuras de estilo ao som da música popular chinesa.

  

E se a geografia física e humana de cidades fantásticas como Beijing (21 mi- lhões), Chengdun (4,6 milhões), Xangai (24,18 milhões), assim é, tal não empalidece a aventura de percorrer o interior fabuloso de muitos milhares de quilómetros sem fim, com imagens de outros espaços e orografias inesquecíveis.

A China dos nossos dias, não é passível de instântâneos neste como noutros sectores, que tentem reproduzir em “flash” a sua complexa realidade.

 

Esta, precisa no mínimo de curta-metragem para abarcar, em revelação cor- recta, as preocupações de uma nova China promovida e dirigida por uma nova geração de autoridades políticas e novos quadros de vivência normativa.

 

Da cidade de Zhuhai, semente localizada do pensamento económico de Deng Xiaoping, onde, como se de laboratório se tratasse, se lançou o embrião e se ensaiou a criação de uma nova economia empresarial, até à China dos nossos dias da “Belt and Silk Road Initiative” do Presidente Xi Jinping, o país conseguiu construir uma síntese extraordinária entre empresariado e autoridades políticas nacionais e regionais, concertados para projectos com escalas e dimensões que surpreendem a cada passo, numa visão de grandeza integrada que raramente esquece a competitividade internacional.

 

Foi o caso da IMTA – International Mountain Tourism Alliance, que integro nos seus orgãos, com sede em Guiyang, agregação de autoridades mundi- ais de vinte e nove países, que este ano reuniu em Xingyi, destinada a captar em dez anos para a Região de Guizhou cerca de 70 milhões de turistas.

 

É o caso “The Belt and Silk Road Initiative” dotado de 40 bilhões de dólares USA, que pretende criar um corredor de modernidade e ligar a Ásia à Euro- pa, não apenas quanto ao estabelecimento de novas vias de transporte terrestre e ferroviário permitindo uma maior celeridade na colocação de produtos, mas aplicando parte deste montante em parcerias para o investimento diversificado ao longo do percurso, com os diversos agentes económicos nacionais.

 

Um dos aspectos mais relevantes e consequência desta iniciativa é a componente de aproximação pela economia e pelo investimento, para uma nova era de paz naquela região do globo.

 

A cooperação entre a China através da “Belt and Silk Road Initiative” e cinco países da Eurasian Economic Union (EEU) – Rússia, Bielorrússia, Cazaquistão, Arménia e Quirguistão (uma espécie de U.E., buscando até 2025 um “free flow” de mercadorias, capitais e li- vre circulação de trabalhadores) é exemplo notório.

Mas o projecto “The Belt and Silk Road Initiative” abrange também a Cultura e as suas expressões mais afirmadas da herança chinesa, entrelaçando tradição, inovação, modernidade.

 

Isto é, a China dos nossos dias, pretende afirmar-se no mundo global, sabendo da riqueza das suas tradições, constituindo elas próprias, elemento acrescido de valorização perante o exterior.

 

Sem dúvida que a globalização implicou rupturas e desafios para sectores da União Europeia e do nosso país, que destruiu muito tecido económico, designadamente com a concorrência acrescida; facto, todavia, é que a China oferece oportunidades de mercado verdadeiramente extraordinárias.

 

Antes da crise sanitária que assolou o mundo, estavam a viajar pelo mundo, em turismo e a cada ano, cerca de 140 milhões de cidadãos chineses.

 

Conjugado com o comércio bilateral, trata-se de um oceano de negócios, muito maior, sem dúvida do que aquele que um meu amigo chinês que veio trabalhar para Portugal descobriu, ao tentar vender algo português na China: começou sem ambição há poucos anos e este ano exportará para Beijing mais de 1200 contentores de cerveja produzida em Portugal.

 

No somatório destas notícias, esta Câmara de Comércio é um momento de esperança num mar de oportunidades que se abrem, recreando o entusiasmo com que o seu Presidente Y Ping Chow soube reunir empresas, quadros e muitos daqueles que vêem nesta Câmara uma ponte para o futuro.

 

  

Carlos Pinto
Conselho Consultivo CCPC-PME